No contexto asilar do século XIX, uma notável diversidade de pacientes exibia sintomas que permitiam esboçar diagnósticos mais precisos, ou pelo menos indicavam uma sintomatologia sugestiva de novas patologias.
Entre esses indivíduos, destacavam-se aqueles com sintomas psicóticos evidentes, caracterizados por agitação, ideias delirantes e manifestações de esquisitices e estereotipias, sobretudo alucinações. Algumas mentes perspicazes, como a de Morel em 1852, interpretaram esses casos como manifestações sintomáticas psicóticas severas e deteriorantes, cunhando o termo “demência precoce” e atribuindo-lhe um matiz degenerativo. Esse conceito permeou o campo psiquiátrico por décadas. Outro expoente da psiquiatria, Edwald Hecker, em 1871, observou um fenômeno similar, caracterizado pelo surgimento precoce na adolescência, manifestando-se com uma apresentação psicótica marcada por puerilidade dissonante, comportamentos bizarros e desagregação do pensamento, denominando-o de “hebefrenia”. Por sua vez, o mentor de Hecker, Kahlbaum, delineou a catatonia em 1874 ao estudar pacientes com agitação, anormalidades motoras e, por vezes, intenso estupor.
Esses três estudiosos, cada um explorando psicoses com distintas apresentações, mas com pontos de convergência no início dos sintomas, exerceram influência crucial no desenvolvimento do raciocínio diagnóstico de Kraepelin em 1886. Kraepelin identificou uma manifestação aparentada do grupo, a “demência paranoide”, delineando assim a possibilidade de considerar essas diversas manifestações como entidades próprias de uma psicose delimitada.
Foto de um grupo de pacientes catatônicos (1896), contida na obra “Psychiatrie Ein Lehrbuch für Studirende und Aerzte” , 1896.
Referência: História da Psiquiatria – Século XIX – Parte II A Psiquiatria Biológica e o Positivismo.
Cordenador: Marcos de Jesus Nogueira.
Autores: Marcos de Jesus Nogueira, Maurício Eugênio Oliveira Sgobi.
Editora Cubo